De alegrias, dores e saudades

São José, SC, 29/06/2023, 07h17

De alegrias

Manhã! A folha em branco convida
para que eu a preencha e acolha
a mim mesmo e à própria folha
com caligráfica noção de vida.

A alegria, que me andava sumida,
fez-me sair, por um momento, desta bolha
e beber o vinho sem guardar a rolha
e tornar minha vida mais agradecida:

eu tenho casa, Deus me deu família,
o meu trabalho é humilde e honesto
e hora ou outra escrevo os meus poemas.

Ainda ontem voltou para casa
o meu irmão! Meu coração deu asas
a novos versos e espantou problemas!

De dores

A dor do outro era-me um problema
porque também o era a que eu tinha
pois somente textos e poemas
faziam-me sentir dor (às vezes minha).

Tornei-me então fingidor,
romantizando, das gentes,
a dor real que se sente
e distanciei-me do que é dor,

mas esta nunca me abandonou
ainda que eu lhe ignorasse
e por muito que ela tentasse

me ensinar, meu ser relutou
consigo mesmo e o sistema,
hoje leio melhor o tema.

De saudades

A folha branca aceita meus rabiscos,
dos mais ariscos aos mais empolgantes
e me inspira a decorar instantes
com a melodia de antigos discos

em que ainda tocam músicas saudosas,
de saudosas malocas, de tardes que choram
e sambas de bambas que não morrem jamais
como as Rosas que exalam um perfume onde moram.

Chega de saudade, pois quando a próxima estação
chegar e a chuva anunciar-se em meus varais
eu te darei, oh meu amor, meu coração.

Saudade agora é um suspiro,
mas feito açúcar, não mais o tiro
e se mais deliro, sorvo-o em paz.