Tony das Letras (Tony Revisor)
Cantinho de Tony R. M. Rodrigues sobre livros, literatura, leitura, texto, revisão, escrita e mais!
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
A uma velha amizade
A uma velha amizade

I

Chegaste certo dia muito cedo
com o dono da casa a trazer-te a mala
e foste te abarcando, pela sala,
do silêncio em que eu dormia em segredo.

Tua voz irritou-me até a ponta dos dedos,
porque tu eras pura energia e disposição,
mas, no lugar de raiva, inveja ou medo,
entregaste-te, sempre altiva, teu coração.

Brigamos certas vezes pela vida
e quis o destino que ficaste sumida
de meus olhos, meus gestos e minhas mãos.

Hoje não sei por onde andas, na cidade
às vezes paro e penso em ti, Felicidade:
um dia (e para sempre) ficamos irmãos.

II

Às vezes me perguntava: Como podia
um ser com tamanha propriedade
personificar tanta luz e bondade
em meio a um passado de agonias!

Contando-me sua história, me dissera
que deixara chão muito sofrido para trás,
mas na bagagem havia muita paz
a lhe salvar da Morte, capataz onde estivera.

Fizera-se uma diva entre os amigos
e eu perguntava: por que comigo
deseja compartilhar suas lúdicas cores?

E enquanto eu insistia em ser neblina,
mais sol resplandecia essa feliz menina
dos olhos de tantos beija-flores.

III

Está chovendo e eu, trancado em casa,
jamais esquecerei que deste asa
aos sonhos que um dia eu tive
em tua dadivosa companhia.

De alguns amores meus foste Cupido
e, nessa de acolher e ser acolhido
fui cultivando válidas experiências
que deram mais sentido a minha existência.

Por isso, velha amiga, me perdoes
ter contaminado algumas vezes tuas flores
com implicante e insistente amargura.

Recebe, hoje, minha lágrima furtiva
de amor, com que eu sei que ainda cultivas
o sol que aquece tantas criaturas.

IV

E que venham a nós novas amigas tuas
inspirar já de manhã as gentes
a percorrer a imensidão das ruas
muito felizes de seres presente.

Felicidade, vê se amolece
com teu poder aquele coração
que do maior ensinamento esquece:
sê luz, amor, carinho e mansidão.

Onde estiveres, saibas que, em verdade,
vêm visitar-me a Dor e a Saudade
que te procuram sempre onde não estás

porque, já cegas por tamanha idade,
só tua essência, amiga Felicidade,
há de guiá-las sempre para onde vais.
Tony Roberson de Mello Rodrigues
Enviado por Tony Roberson de Mello Rodrigues em 15/06/2023
Comentários